O rádio e a votação do
impeachment
7 de maio de 2016
Luiz Artur Ferraretto
Algumas ponderações sobre o rádio e o
jornalismo em coberturas de fatos de importância histórica:
(1) Em tempos de convergência e dentro de
um regime democrático, o papel do radiojornalismo é narrar fatos potencialmente
históricos o mais próximo possível do palco de ação destes, com a maior
variedade possível de perspectivas a respeito e oferecendo estes conteúdos nos
mais diversos suportes possíveis. Tudo, como indica o período anterior, passa
pela ideia do que é possível ou não ser feito. Uma rádio de grande porte terá
mais recursos, obviamente, do que uma menor. Esta última, no entanto, não pode
usar isto como argumento para uma cobertura tendenciosa ou desleixada.
(2) Em sua essência, jornalismo é o que se
faz no palco de ação do fato, local de onde o profissional transmite a notícia.
No caso em análise, este local é o Senado Federal, em Brasília, e não o estúdio
da emissora, assistindo o que ocorre pela TV Senado.
(3) Sem a possibilidade de estar no palco
de ação do fato, a emissora tem como única saída a análise. Fique claro que
análise não é opinião simplesmente. Pode ser feita por jornalista experiente e
com anos de cobertura política. Deve ser realizada com o recurso a
especialistas, mas considerando a diversidade de posicionamentos ideológicos
destes. Análise serve para contextualizar. Acrescenta conteúdo e, em nenhuma
hipótese, deveria servir à manipulação.
(4) Jornalista com cargo em comissão junto
a quaisquer dos lados desta contenda política jamais poderia participar deste
tipo de cobertura por emissoras de rádio. Quem age desta forma - âncora,
repórter ou chefia - fere o parágrafo VI do artigo 7º do Código de Ética dos
Jornalistas Brasileiros.
(5) Ao contrário do que o leigo ou o mau
profissional podem pensar, emitir opinião pessoal e emitir opinião jornalística
não são a mesma coisa. Qualquer um possui opinião. O jornalista é um mediador.
Portanto, está entre dois polos. De um lado, há o fato e seus protagonistas. De
outro, aparece o público, a sociedade como um todo. A opinião jornalística é
construída com base em indícios, mas supondo sempre certo grau de desconfiança
em relação a eles. Dá margem, desta forma, para o contraditório. É assim que o
profissional auxilia na construção de uma sociedade verdadeiramente
democrática.
(6) Quem é sério é sério, por óbvio,
independentemente de veículo, posição pessoal, visão de mundo... Vale na vida.
Vale no jornalismo.
(7) Quando a posição pessoal toma, ao
microfone, o lugar da notícia, o profissional deixa de ser profissional.
Significa que jornalista não deve ou não pode ter opinião? Não. Significa que
esta serve de pouco ou nada se não estiver amparada em dados, mesmo sendo a
opinião do seu patrão ou a da maioria do seu público.
(8) Jornalista não é nem promotor público,
nem advogado de defesa e muito menos juiz. É impossível ser totalmente
imparcial, mas, obrigatoriamente, se deve buscar o máximo possível ser honesto
com o visto e o ouvido, narrando o fato de modo que as conclusões a respeito
deste sejam do ouvinte.
(9) Rádio é outorga do Estado brasileiro em
nome da sociedade. Emissora que convoca protesto a favor ou contra governos,
que omite notícias em prol de seus interesses e que transforma jornalismo em
propaganda deveria ser punida por desrespeitar a complexidade de
posicionamentos da população. Vale para emissoras comerciais. Vale também para
estações mantidas pelo Poder Público.
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