Abraham Lincoln e o tal do jornalismo autoral ou de opinião
28 de abril de 2016
Luiz Artur Ferraretto


É interessante como, em algumas emissoras, a falta de recursos encaminha a programação, nestes tempos, para o mais escancarado conservadorismo. Em momentos de crise como o atual, apostando no cavalo que parece vencedor, pendem para o antiprofissionalismo, travestindo suas práticas com o tal jornalismo autoral ou jornalismo de opinião. Há quem, inclusive, festejando outros tempos, chame o movimento de 1964 de “revolução”.

Lembro que, em 1994, junto com um grupo de colegas talentosos e extremamente esforçados, na Band, a daqui de Porto Alegre, ajudei a produzir um programa sobre os 30 anos daquele nefasto episódio histórico. Tivemos o cuidado de chamar os fatos da madrugada de 1º de abril de 1964, no genérico, de “movimento”. Quando o lado da esquerda aparecia, usávamos a palavra “golpe”. 

Quando o ponto de vista pendia para o da direita, o vocábulo era “revolução”. Recordo que uma estagiária me disse: “Tá doendo usar 'revolução' para duas décadas de censura, desrespeito e repressão”. Eu respondi que machucava, mas mantinha nosso distanciamento. A conclusão deveria ser do ouvinte. Sigo acreditando nisto.

Acho triste, no entanto, que se utilize outorga pública para mistificação histórica. Está ocorrendo em emissoras de grandes cidades e no interior também. Felizmente, são rádios com audiência mais reduzida, tentando assim chamar a atenção. Com este tipo de atitude, possuem pouquíssimas chances de liderar o mercado. Algumas até podem conseguir fazer isto por um período. Crescem em número de ouvintes, mas vão mantê-los? Duvido. Jornalismo sem contraditório faz com que o ouvinte inteligente, mesmo de posição semelhante ao deste tipo de comunicador, acabe se dando conta de estar sendo vítima de um processo vil. A respeito, cabe sempre lembrar daquela frase atribuída ao presidente Abraham Lincoln: “Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Pois é...


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